segunda-feira, outubro 31, 2005

carta a um mouro

Amor meu

É com muita angústia e desespero que te escrevo esta carta
Muitas noites e muitos dias se passaram desde que partiste estrada fora.

A fonte secou, aquela sabes, onde me viste pela primeira vez. Estava eu moura encantada, saciando a minha sede quando te aproximaste de mim.

Todos os dias (re)tomo o mesmo caminho na tentativa desesperada de te ver chegar a galope no teu cavalo preto.
Relembro os beijos apaixonados e as juras de amor.

Mas a fonte secou. Já só tenho sede de ti.
Já não sou moura encantada, vivo amargurada.

Esta leva-o o mensageiro. Os cristãos estão a chegar. Não sei se me encontrarás aqui se algum dia regressares.
Mas volta à nossa fonte. Se encontrares lá água, são as minhas lágrimas.

Maria (a moura)

domingo, outubro 30, 2005

para ti, que estando presente, não sei por onde andas

Cidália
julgo, com certeza quase certa, ser este o teu nome. és, hoje a mesma presença, fantasma que aquela que há trinta e poucos anos em terras de áfrica, me seguia em-desenho-sombra. pequenina, de bata branca, cabelo curto negro. perdi-te o rasto, apesar de ainda andares diluída nas minhas imagens de infância. ligava-te pouco, mas tu seguias-me, nos recreios, nas aulas com sorrisos. é dos sorrisos que me lembro. sentia os teus olhos, como se fosses omnipresente. eu, como sempre, ausente. tinha o olhar ocupado por menina outra, mais rebelde, mais atrevida. era eu que a seguia, talvez hoje seja eu, no olhar dela, a mesma sombra, o mesmo fantasma presente como tu o és para mim. já te inventei história, e imaginei mil ( re) encontros. Cidália. lembro o nome com um misto de cor e de saudade, dos tempos em que não existíamos ( em que não nos atormentava a existência) e brincávamos, longe da guerra, longe dos sofrimentos, que os mais velhos gravavam no olhar. tento recordar a nossa turma do liceu antónio eanes, lourenço marques, ano de 72?73? não sei turma (4º ano do ciclo? não faço ideia, perdi-me nas contagens), recordo o Joel, o Quim e o Paulo…Pedro? todos os outros são sombras e só tu tens rosto. curioso isto de ainda teres rosto e presença, depois de tudo o que vivi. por isso te escrevo, para te dizer isso mesmo, que ainda por cá andas, de olhos negros-doces, dentro de mim. voltei a Moçambique, mais duas? três vezes? passei sempre pelo liceu, para te ouvir, para te ver nas imagens dos meninos que nós éramos. são engraçados estes desencontros do acaso. não sei onde estás, andarás por aí, como eu ando por aqui contigo a correr nas memórias com a suavidade de uma gaivota que se esconde no horizonte…
fica um beijo, deste teu amigo ( Zé, lembras-te?)

Achados e Perdidos

Exmos. Senhores da Secção dos Amigos Achados e Perdidos,

Venho por este meio expor o seguinte:
Há muitos anos, quando ainda não havia computadores, tive um amigo. Uma amizade nascida na adolescência, por acaso, fruto de uma daquelas revistas de jovens onde apareciam endereços e nós escolhíamos nomes à distância. Nunca vi o meu amigo, nunca lhe ouvi a voz, nunca nos quisemos encontrar. Durante dez anos as cartas partiram e chegaram com a frequência possível em esperas e chegadas do carteiro. Recordo e seria capaz de reconhecer ainda a letra direitinha, redonda, marcada por páginas infindáveis de sonhos e esperanças, por oposição à minha, voluntariosa, miudinha, em despique de ideias e temas. Admiro-me hoje como havia tanto para escrever, num agrado mútuo de colocar o nosso eu dentro de um envelope. Rabiscámos nas folhas, semana após semana, anedotas, júbilos, melancolias, progressos, dúvidas e perdas. Mas o corre-corre da vida leva a espaçar os contactos, como os senhores tão bem sabem. Os caminhos separam-se algures e o tempo começa a escassear. Seguimos os destinos e os endereços mudam, ano após ano. Argumentam-me que um amigo assim é para toda a vida e eu sei que é.

Meus senhores, venho por este meio apenas perguntar se nos vossos achados e nos meus perdidos encontraram o meu amigo.

Cordialmente, com toda a minha consideração,

sexta-feira, outubro 28, 2005

Cartas…

Cartas têm destinatário senão não são cartas.

Escrevo para ti e no momento em que te encontras com as minhas palavras elas ganham vida, tomam forma e eu deixo de ter qualquer poder sobre elas.

Cartas são sentires senão não são cartas.

Só escrevo a quem gosto. É um carinho, um abraço envolvido nas letras que desenho.

Cartas têm mistério senão não são cartas.

Não te digo tudo. Nunca digo tudo. Fica sempre algo para que leias nas entrelinhas.

Cartas são poemas senão não são cartas.

Não os sei escrever. Já fiz várias tentativas. Mas em cada carta que te escrevo vai um pouco de mim, isso não é um poema?

Cartas têm cumplicidade senão não são cartas.

Escrevo para ti. Do meu jeito. Daquele que tu conheces e eu sei que aprecias.

Há uma criança dentro de mim, sabias? E quando ela se apodera de mim simplesmente escrevo o que me vai na alma…

Maria (a moura)

quinta-feira, outubro 27, 2005

a incomodidade de uma cor

para ti que te perdeste na minha memória,

estou louco, é verdade. aconteceu. a demência, essa trouxe-a o vento. esta manhã. aconteceu. por isso te escrevo. para que não ligues aos meus não-gestos. tenho vontades. muitas. mas outras. ( não cortar orelha alguma, como outros loucos, mas o braço, o direito. incomoda-me.)
vou sair. vou beber chuva. para diluir esta loucura de querer ser cor nova, entre uma papoila e um girasol, em aguarela. sempre em aguarela. por isso a chuva.
( não te dizia? loucura! loucura!)
queria tanto pintar-te, despida do eu , do teu, que me incomoda. como o meu braço direito. mas o vento, ah o vento trouxe-me a loucura e só sinto o movimento, do desenho do que não vejo.
não te vás embora, peço-te. isto passa-me. continua em mim. orienta-me.
já volto. talvez não em carta, mas em cor.
vou beber chuva. não esqueças. vou pintar-te nua de ti. nova. como a lua que brinca aos reflexos na lagoa e provoca mistérios e coisas outras de duendes ou fadas ( mas sem bruma que a cor é outra, é nova)
prepara-te. ou melhor deixa-te estar porque isto "do novo", mesmo para uma cor, só mesmo de surpresa. não há nada como um maravilhar surpreendido. eu gosto. mesmo louco.

Carta I

Carta I

Nem sei porque te escrevo? Se tenho a certeza absoluta, analítica e sintética, que nunca terás acesso a esta carta.
Às vezes interrogo-me. Há quanto tempo foi? Ontem? Não! Foi há tanto tempo.
Sabes, neste momento estou a viver em Cascais. Gosto da cidade, de calcorrear as ruelas sem destino, onde descubro sempre recantos, cheiros e outras coisas que me fazem viver, mas por vezes, como hoje, sinto uma saudade e uma nostalgia tão grande que não me cabe no peito, e que me parece estrangular de aflição.
Sinto saudades tuas. Que é feito de ti?
Sabes?! Não, claro que não! Mas ainda tenho o número do teu telefone gravado no meu telemóvel, de vez em quando vou à agenda procuro-o, mas não tenho coragem de ligar.
Sei que me irás repetir pela milésima vez.
Não posso!!!
Nem sei porque te escrevo……

terça-feira, outubro 25, 2005

São cartas...



Gosto de cartas, sempre gostei (ponto final)
De apresentação, de viagens, de confidência, de desabafo, de alegria, de lembrança, de parabéns, de pesar, de saudade, de reencontro, de despedida até (reticências)
Toda a carta tem mistério (ponto-e-vírgula) porque nas letras juntas ficam mais do que as palavras escritas. Por isso escrevemos e voltamos a escrever. Para prender em frases parcelas de pensamentos.
As cartas têm o condão de me levar à ternura. Difícil a ternura nas rotas de hoje e navegar é preciso (ponto de exclamação)
Foi esta a minha primeira carta de mar(inhar), entre parênteses. Também eu gosto de barcos de sonho, com ou sem asteriscos nos portos onde atracam. Desde que os ventos estejam de feição e o sentir seja de liberdade em mar onde se alongue a vista, não achas (ponto de interrogação)
Que se sigam as coordenadas, que nos possamos orientar pelas estrelas, que se dê a volta ao mundo (dois pontos) eu também quero ir.
E porque alguém me disse (aspas) que o tempo nos foge sempre, eu hei-de falar do Tempo. Noutras cartas. Noutras navegações.

(Travessão) São cartas, marinheiros, são cartas… e cartas são (sinais).

segunda-feira, outubro 24, 2005

carta de orientação

marinheiros de qualquer mar ou deserto ou de coisas outras como o caminhar:

este espaço tem, sinto-o uma liberdade-de-brisa. não tem sentidos. cada um navega no seu sentir.com a sua fantasia. com a sua estrela. é espaço sem espaço. por isso me encantei ( não fora a princesa moura encantada e ele não teria nascido assim. com ternura, mas sem mistério). como o mar, é aberto. como as cartas. as minhas. todas as minhas cartas se abrem como a flor ao sol. estas também. as minhas e as vossas. as nossas. estas cartas são o desenho da nossa liberdade. por isso o encanto que vejo nelas. apetece-me convidar todos, para que todos sintam a liberdade de marinhar neste mar. conhecidos e desconhecidos. escritores. poetas.palhaços ou gaivotas. são cartas de marinhar. umas tristes. outras loiras, outras mouras, outras umas e outras. são cartas para quem gosta de caminhar. cartas à antiga, com data ou sem data com local ou sem local. sem espaço, porque a liberdade é um não espaço onde o tempo não aparece para incomodar o olhar…
gosto deste canto do barco de navegar, não tem ré nem proa, só tem bom-bordo, é um barco de sonhar. entrem. só se entra com carta de marinhar. entrem estamos a navegar…

ps(1): não preciso de convidar entrem o barco navega lento
rd(1) ( rd= recado dirigido): moura.princesa. uma carta por dia? ai. não sei se consigo.

domingo, outubro 23, 2005

Princesa por um dia...

almaro

Maria eu sou, moura também, será que sou princesa?

Depreendo que a carta é para mim, princesa por um dia, que não resisto a um sonho muito menos a um desafio.

Mania minha de deixar portas abertas, de responder a cartas e ficar à (des)conversa.

És um intrometido, mas em jeito de remissão terás que escrever uma carta por dia!

A resposta é curta. Hoje sou princesa, há outras correspondências em curso, muitos afazeres no reino.

Ps: Ando a deixar escapar segredos (clicar!).

Beijos meus,
princesa moura por um dia

em desciume

querida moura
talvez por ciúme. talvez por querer estar. aí. ou talvez no apenas…de gostar de escrever cartas. mais do que receber. porque me liberto na ausência, do estar no pensar, com o outro. neste caso contigo. princesa. moura.
talvez esteja a invadir o teu, vosso espaço. estou. na certeza. na minha. vale o que vale ( mas vezes há que sabe bem dizer ….na minha , mesmo que a não tenha.certeza. claro).
já percebeste. é carta sem sentido. como eu. quando escrevo. quando marinho letras em forma de palavras no desenho do sentir. deixo-me escorregar na cor e no querer e vou por ai como quem corre atrás de um sonho. do meu. que é pequenino. o sonho de gostar de estar, aí ou aqui, mas estar.
sinto-me um intrometido, repito, mas a porta estava aberta e o carteiro é como eu. vagabundo. a carta fica aí. por aí . fica o momento de neste instante estar no desenho de uma princesa. moura.
um beijo