domingo, outubro 30, 2005

para ti, que estando presente, não sei por onde andas

Cidália
julgo, com certeza quase certa, ser este o teu nome. és, hoje a mesma presença, fantasma que aquela que há trinta e poucos anos em terras de áfrica, me seguia em-desenho-sombra. pequenina, de bata branca, cabelo curto negro. perdi-te o rasto, apesar de ainda andares diluída nas minhas imagens de infância. ligava-te pouco, mas tu seguias-me, nos recreios, nas aulas com sorrisos. é dos sorrisos que me lembro. sentia os teus olhos, como se fosses omnipresente. eu, como sempre, ausente. tinha o olhar ocupado por menina outra, mais rebelde, mais atrevida. era eu que a seguia, talvez hoje seja eu, no olhar dela, a mesma sombra, o mesmo fantasma presente como tu o és para mim. já te inventei história, e imaginei mil ( re) encontros. Cidália. lembro o nome com um misto de cor e de saudade, dos tempos em que não existíamos ( em que não nos atormentava a existência) e brincávamos, longe da guerra, longe dos sofrimentos, que os mais velhos gravavam no olhar. tento recordar a nossa turma do liceu antónio eanes, lourenço marques, ano de 72?73? não sei turma (4º ano do ciclo? não faço ideia, perdi-me nas contagens), recordo o Joel, o Quim e o Paulo…Pedro? todos os outros são sombras e só tu tens rosto. curioso isto de ainda teres rosto e presença, depois de tudo o que vivi. por isso te escrevo, para te dizer isso mesmo, que ainda por cá andas, de olhos negros-doces, dentro de mim. voltei a Moçambique, mais duas? três vezes? passei sempre pelo liceu, para te ouvir, para te ver nas imagens dos meninos que nós éramos. são engraçados estes desencontros do acaso. não sei onde estás, andarás por aí, como eu ando por aqui contigo a correr nas memórias com a suavidade de uma gaivota que se esconde no horizonte…
fica um beijo, deste teu amigo ( Zé, lembras-te?)