segunda-feira, novembro 07, 2005

Para uma donzela (resposta a: Carta a um desconhecido)

Prestável donzela

Desde já lhe agradeço a atenção que deu ao meu atrevimento.

Começo por lhe agradecer a sugestão do coche, tentada inúmeras vezes sem sucesso, tendo mesmo perdido o alazão que se fez à traquitana qual amante ofendido. Ver a carruagem de fronte foi ultraje que não suportou.

Quanto aos aposentos, espartanos certamente, mas com todos os luxos que um cavalheiro deve oferecer. Nada que envergonhe nem pela qualidade nem pelo exagero.

Até aqui estaria tudo bem, minha destinada, mas se pensais ter em mim cavalheiro deslumbrante, figura agradável e de bom porte, terei de gritar bem alto a minha ofensa; sou feio senhora, tão feio que me recusaram leite, mãe e amas, e assim criado a leite de vaca me fiz homem, rijo, é certo, mas sem fronha que encantasse.

Agradeço-lhe ainda a alusão ao chá que meu estômago nega por nascença, mas tendo experimentado a camomila em tempos idos posso afiançar-lhe, nem tudo o que luz é ouro.

Sem mais assunto, nas suas palavras, fica este seu vassalo agradecido pela esclarecimento e interesse, e sem mais delongas me despeço com o debicar dos meus lábios na sua alva mão, a sem luva, pois a outra nunca a vi!

Ortega e Borbon d’Ugaju


Carta enviada por: Ugaju