segunda-feira, novembro 14, 2005

aos meninos de mumemo

Escrevo-te menino de Marracuene, por saudade, coisa estranha este maka de sentir falta de uma terra cor de sangue, que tu pisas em angustia e que eu menino como tu, pisei em alegrias muitas, ao passear-me no rio serpente , também ele, cor de sangue, que aí perto do teu novo bairro, corria barrento. Tenho saudades do velho e indomável Inkomati, das histórias muitas que me contavam de xicuembos ao som de batuques e de ximandjemandes . Esta saudade, estranha para um Tuga que só por ai passou, incomoda-me. Por isso te escrevo para te dizer que dentro de pouco tempo estarei aí. Quero esquecer as alegrias e com elas olhar os teus olhos. Quero que me digas olhos nos meus, o que precisas para sorrir. Quero passear de mão dada contigo e saber que há um futuro, quero olhar o Inkomati contigo e sentir a tua mão presa à minha, com a liberdade de sermos dois que sonham com uma terra que é mais que montes de muchém …
Seremos os dois, formigas, ou apenas colibris. Seremos fazedores de terra, tu e eu de mãos dadas a sorrir. Quero que me ensines os teus sonhos, os teus desenhos, as tuas sombras. Quero perceber como sobrevives na angustia do não existir e caminhar contigo para lá do Limpopo. Quero que me ensines a plantar um Canhoeiro…
Escrevo-te menino de Mumemo, para que me ajudes a ser mais que angustia e sentir que um dia pude desenhar um sorriso a um menino que corre como os sonhos escondidos , lá por terras d’africa …
Escrevo-te para te dizer que dentro em pouco estarei aí…por ti.

Maka: problema
Xicuembos: feitiços
Ximandjemande: danças
Muchém : formigas
Canhoeiro: àrvore de fruta