Carta à gerência
CaríssimosVenho por este meio (já que não tenho outro!) comunicar-vos que a partir deste momento também faço parte desta mansarda (ou que raio é isto, já parece o bairro da outra, uma amiga minha rapariga cheia de surpresas).
Ninguém me convidou mas eu faço-me de convidada. Preciso lá dessas coisas.
Haja alguém que traga alegria a esta casa, coisa mais tétrica, deprimente. Princesas mouras e encantadas, paixões a dicionários, vagabundos do vento, ortegas não sei das quantas mas não há aqui ninguém normalzinho?
Há já algum tempo que venho seguindo o carteiro (há sempre moradas novas, o desgraçado já nem sabe a quantas anda!), rapaz interessante, trinta e poucos anos, muito dentro da validade, alto, espadaúdo, só “colidades”, desde que não abra a boca…onde ia eu? em perseguição ao carteiro e dei comigo em casa alheia.
Com os seus encantos, pensei, muito lá no fundo, talvez para o quintal (mansarda tem quintal?!?) mas um pouco sóbria demais para meu gosto, a necessitar de arejo, pintura nova, janelas abertas e vai daí resolvi dar uma mãozinha, sou rapariga decidida e afoita, não olho a meios desde que atinja os fins.
Estou certa que vão gostar, agradecimentos não espero, venho para ficar!
Quando entrarem não se assustem, estou de molho na banheira e esta no meio da sala.
Casa mais acanhada!
Sem mais assunto de momento (mas é só de momento, porque assunto é coisa que nunca me falta!)
Desta sempre loira e molhada, a loira da banheira.
(ai que isto vai pegar fogo!)