Esta carta que, só, te escrevo...
Sentei-me numa cadeira e sobre o mar olhei todas as estrelas. A esplanada do bar pareceu fechar-se a todas as coisas. E de novo surgiste ali, tão nitido e real como naquela despedida atrapalhada do Nós...Tinha chegado ali sem perceber que ainda te procurava. Só quando não te vi percebi em mim esse pedaço longinquo que ainda te chamava... Eu gritava Vem! com a mesma voracidade com que disseste Adeus...
Pareceu-me de repente demasiado humilhante, ver-me ali, no inicio do Outono ainda de vestido de Verão. "Ainda está calor...", dirias ausente, certamente sem perceberes que o colocara para ti. Era por ti que me vestia e despia e não pela meteorologia das estações! Há calores mais quentes que o do Sol que os alimenta. Calores que ardem por dentro, constantes! Sim... humilhante, eu sei...
Humilhante, rondar este assunto agora que já nada foste... agora que não regressaste... dizer-te assim, agora, tudo quanto podias ter sido nessa tarde de Outono, em que eu continuava a usar um vestido de Verão e tu tinhas apenas a ausência fisica de ti para me dares, nesse momento de Nós atrasado.
Tão atrasado que nunca chegou...
3 de Novembro de 2005