quinta-feira, novembro 10, 2005

Carta ao Imaginário

Meu tocante e reverenciado Imaginário:

Há uns tempinhos que ando para te escrever. Vai-se adiando, adiando, porque a vida não são só ilusões e o tempo escasseia em afazeres prioritários. Nem sempre os ventos estão a nosso favor e nem sempre as marés trazem novas garrafas com cartas de amor.

Mas vamos ao que importa:
Meu impressionante e irrepetível Imaginário, ando saturada. De quê, perguntas em piscar de olhos ramalhudos, pouco atentos e sincopados, enquanto as ideias se somem em suspiros de fastio meus.

Dar-te-ei o rol, meu caríssimo, que me causa tamanha (des)animação.
Aqui declaro, por escrito, que me entristecem histórias de magos com alquimias e feiticeiras que se somem nas brumas da noite, de belas infantas de olhos negros e príncipes que chegam em cavalos alados, de fadas com varinhas fingidas e duendes coloridos, de sapos que incham e transformam-se em glossários, mais os super-heróis, cavaleiros, piratas, ogres, gnomos e adivinhos e magas videntes.
Repara, meu ansiado, brotam das gentes lágrimas, sofrimentos e dores. Jorram em catadupa desamores, partidas, raivas, fatalidades e ciúmes. Cinzento andas tu, benquisto Imaginário. Soluções?

Vou ver se encontro por aí o mapa do tesouro, a esfinge e as respostas, a casinha de chocolate, a maçã e o fuso atado à roca, o gato com ou sem botas, o polegarzinho a dançar com a branca de neve de loiras tranças, os três leitões e o capuchinho a avisar os quixotes pendurados em moinhos.
Ai que desejos eu tenho do rouxinol do imperador!
Cantos, hinos, canções, árias, trovas, melodias. Carta de sorrir é urgente.

Talvez, meu dulcíssimo Imaginário, me faças largar as migalhinhas e achar o caminho para casa, enquanto vou cantando as pombinhas da Cat’rina ou o jardim da Celeste repleto de flores.
Com um xi-coração me despeço antes que venha o homem do saco.

Sempre a bulir nas ondas,
Maria ( a das bandas do mar)