Carta Escrita V
Não recordo ter chegado aqui...
Que pés foram estes que me trouxeram aqui sem que eu tivesse notado este caminhar distante, longinquo... lento?
Quantas vezes parei no caminho, julgando não o estar a percorrer ou pelo caminhando incerto demais...? Não penso. Não as conto. Esqueço-me da matemática metódica da vida.
Enluto-me numa tristeza sobre mim, julgando-me demasiadas vezes coveiro e encovado de mim próprio. Subtraiu-me a quem sou - a única operação matemática que ainda sei fazer - divirjo entre mim e as minhas (des)ilusões...
Sou o destino que não vive. Sou quem não vive o que lhe querem por vida.
Um dia nasci, recordei o inverno de estar sozinho.
Um dia depois de nascer dei por mim nascido e crescido. Era homem e no entanto ainda hoje tenho este incrivel medo do escuro, que tem vindo a derramar-se lento sobre toda a minha vida.
Sim!
Sim, desesperei-me em lentos detalhes!
Calei demasiadas vezes a boca, fechei outras tantas os olhos e sim...!, fiquei abanando o copo à vontade da miséria, essa eterna amiga que sempre vem, que sempre se tem aproximado com passos ténues e sobreviventes a tantos cansaços.
Sinto-me hoje o ultimo homem.
Aquele que tudo já perdeu e oscila agora entre um ou outro caminho, sabendo apenas, ocasionalmente, que nada vai alterar este ter existido até aqui, semi-humano, semi-mundano...
Semi-Eu!
Sim!
Sim, zanga-me não ter sabido ser!
Foto:
Contemplando a Solidão, de pedrogneves (olhares.com)
by Ar, 08 de Março, 06