segunda-feira, março 13, 2006

carta, a lápis...de carvão

escrevo-te. a ti. que escreves cartas no escuro da noite. de noite. por um nada. escrevo por nada. agarrei no papel e no lápis. podia ser na guitarra e deixar que os dedos ferissem a noite, com um fado não cantado. não chorado. dedilhado na noite. mas calhou-me o lápis. de carvão. apenas porque hoje, é ele o meu companheiro da noite. esboço a vida de noite, como quem desenha a beleza. primeiro, o esboço, depois as linhas, só mais tarde , no amanhecer, as cores…
escrevo-te. a ti. porque só ( tão só, porque foste tu que me entraste na noite). não tenho portas, nem janelas, por isso entraste de leve, como a cor de uma aguarela a percorrer as veias do papel, em suavidades de brisa…
não tenho que te dizer, faz de conta que é guitarra que toca a embalar as estrelas…nem sequer tenho pergunta, ou história para te dar. estou aqui no silêncio de um esboço, a fazer-te companhia, no escuro nocturno da noite. da tua noite. com um papel-guitarra a saltitar no esboço das estrelas. tal como tu, também a lua entrou ao de leve para me segredar as cores dos furturos que se escondem no escuro do amanhã.
por isso aqui estou, a escrever-te. a ti. que desenhas anjos de asas negras, (tão iguais a todos os outros anjos...) para que não façam barulho e assustem os sonhos que (te) habitam na noite que demora a pousar suave, no dormir…