quinta-feira, janeiro 12, 2006

Carta Escrita IV


Não...

Não me repitam as mesmas velhas lições estafadas. Não... Já não quero aprender nada, já não quero ser nada. Vou ficar apenas aqui... Aqui ou ali, onde calhar o corpo pousar-se, inconcreto, fora de mim, de si, de todos...

Não me venham com sonolentas palavras, aquelas sábias palavras que servem apenas para esquecer. Sinto que perco tempo... Aqui ou ali... Em todo o lado, por todo o lado.

Convergente a mim carrego todas as divergências de um ser que se aquietou de repente, e no infimo espaço entre si e o seu EU descobriu que não precisava já de lutar contra os outros, bastava-se...

Travo a batalha derradeira contra mim!

Remexo-me, melhoro-me, armo-me. A cada dia que passa eu sou este momento dissintonizado dos minutos cronologicos dos outros. A cada dia encontro apenas segundos de mim.

Não tenho passado, não tenho futuro, a cada momento esqueço a existência de todos os momentos, até a deste... Como esperam então ensinar-me algo?

Não... Eu sou aquele que não quer aprender! Dizem que cresça, dizem que faça, dizem que aprenda... Pois eu digo a palavra ouvida e repito-a incansavel: NÃO!

Não aos vossos horizontes flácidos. Não aos vossos sonhos quebrados e desorientadamente organizados. Não às vossas palavras fragmentadas no reflexo da mentira.

Não! Mil vezes ouvido, repito-o agora, agora que me querem razoavel, eu que fui sempre razoavel, não, não mais, agora que me querem humano, eu que tive tantas humanidades até perder a humanidade falsa de ser humano, não!

Vou apenas ficar... aqui ou ali... onde o corpo encontrar abrigo e se não o encontrar permanecerei nos segundos deste momento que começo já a esquecer...

Não! Em mim o passado não pesará mais, nem o futuro me arrastará como um condenado pelos Deuses brincalhões do Olimpo. Já não creio em Deuses...

É contra mim que vivo!


by Ar, 12 de Janeiro, 06