sábado, dezembro 24, 2005

Carta Escrita III


Tenho que dizer isto, urgentemente, insanamente, apressadamente... Dizê-lo por onde passo, onde existo, onde sou. Dizê-lo a todos, no café, no bar, nas esquinas que dobram as ruas por onde passo, onde tantas vezes os meus passos têm sido dados de cabeça baixa para os fazer seguros. Tenho que dizer isto que nem sei bem o que é, isto que é ser, que renasce e redescobro sem nunca ter perdido, nem esquecido, nem matado em mim.

Deixem-me escrever, delicadamente, eu que não sei como se escreve, sem ser assim, letra atrás de letra, eu que sou como aquele outro homem igual a tantos homens, meu pai, meu filho, meu irmão, eu que tenho sido tudo por mim e tanto contra mim, preciso escrever. Palavras desgarradas, que encerram em si esta essencia, este percurso que até aqui fiz, percebo cada vez mais feito por mim, erguido com as minhas mãos temerosas e seguras.

Sinto em mim arder esta vontade de falar e contar, de dizer a todos isto que me arde debaixo da pele, que a faz rebentar se lhe imponho o silêncio, descobri em mim o homem que procurava, arde Deus, mas existe!


by Ar, 23 de Dezembro, 05