terça-feira, novembro 29, 2005

Carta da Maternidade


Behind Blue Eyes#, de Claudio Marcio Lopes (olhares.com)


Meu filho, tu que chegas andando e falando...

Por quem eu não esperei nove meses, mas a vida inteira... Quem eu amei muito antes de teres nascido...

Tu que não és carne da minha carne nem sangue do meu sangue, mas parte do meu ser, ser do meu ser, desde sempre... Tu que chegas como a luminosidade por entre a escuridão ou o caminho na solidão do deserto e como de água se tratasse ofereces-me o viver...

Tu que não és meu filho de facto - dizem - mas de coração, de amor, de alma, de algo indistinto, circunflexo, convexo, incontornavel, que trazes nos olhos a minha esperança e este meu olhar novo de criança pequena, tão pequena quanto os pequenos passos com que vens caminhando, com que toda a vida caminhaste na minha frente, com o poder de me devolveres este amor por mim e pela minha vida, porque ela já não é minha mas tua, tua e minha...

Tu que és meu filho e me dizes no silencio essas palavras que não se ouvem e sentem apenas...

Vens sorrindo da dor, para repor em mim esse passado que necessito, dar-me um mundo novo onde tudo se possa corrigir e devolves em esperança e promessas tudo isto que te dou e é tão pouco...

Meu filho - que dizem não seres, que errados estão por pouco saberem - vem devagarinho ao meu encontro, como velhos conhecidos que somos, trazendo contigo a velha palavra, inegavel: maternidade... mesmo que pareça que fui eu quem te procurou e encontrou e salvou.

Meu filho, tu que foste sempre e eternamente meu filho... ainda que demores a chegar... ainda que não chegues...


29 de Novembro, 05