A ti... que és eu...
Quero que saibas, que não me importas. Tal como não me importa tudo quanto aconteceu, não me importa tudo quanto não aconteceu.
Sinto-me hoje lúcida.
Cheia, talvez... dessa estranha lucidez que coloca a descoberto os sentidos e percebemos então o quanto somos de vazio.
Importa apenas que não seja lenta a passagem dos dias continuos. Que não haja mais esse interrupto movimento de estar constantemente fixa, parada.
Importa apenas que, embora as estrelas brilhantes não caiam, este silêncio seja rápido. Animal faminto e voraz, que se ultrapasse numa velocidade de luz, se devore, e desprenda todos os fios de articulação da vida-marioneta.
Quero que saibas que resta pouco... um vazio apenas e toda a lucidez.
Que importa não perceber a vida se ela for rápida, uma viagem de comboio, a mil à hora sem solavanco na partida, nem travão de emergência?
Que importa não ser feliz, se esse mesmo comboio, onde vamos, nos abalroar no caminho sem tempo para a infelicidade?
by Ar,04 de Dezembro, 06