segunda-feira, novembro 06, 2006

Desencontro


Guardo indistinto um momento...
Soluço.
Percorro inerte as pedras sedentas que formam todas as calçadas.

Somo passos.

Tudo é linear... Se visto muito de perto.
Mas sempre que olho o espaço que disto de mim, encontro imutável essa curva do caminho que me oculta quem sou.

Quando era criança - tempo de criança não cresce, decresce - a estrada era recta e encontrava-me sempre ali, meio irrequieto, metade de gente. Vivia insone no mundo fantastico que formado de ilusões não era maior que eu e tudo ao alcance da minha mão...
Então... era curto o espaço e menor o tempo, eu pensava e era eu.

Quando acordei de mim pensei em ser outro. Deixei esse caminho e deixei, renegada, a ilusão, acordei de mim.
Parti em direcção à realidade, a besta feroz de todas as insanidades.

Não há maior loucura do que ser real.
Troquei-me por quem os outros eram!

Soluço...
Se olho vejo, os meus sapatos de caminhar ao meu encontro, rotos e poerentos...

by Ar, 18 de Outubro, de 2006


Photo
Desprotegido, de Paulo Madeira