segunda-feira, dezembro 18, 2006

menino

Querido Menino

Sei que fazes anos.
Parabéns.
Anda meio mundo atarefado a preparar-te a festa. A tua festa de menino-deus.
Parabéns.
Olha, gostava que, se puderes, e não for assim grande maçada, que partilhasses a atenção que te dedicam, com outros meninos. Que enviasses a cada um dos meninos que nasce, no silêncio da dor, um dos homens que te acarinha. Envia-os. Não os prendas aí ao pé de ti, na tua festa de anos. Não os distraias. Deixa-os ir. Confunde-os, Mistura-te em cada um dos meninos que se angustia na desesperança de existir. Talvez assim os homens ( esses que te parabenizam) os vejam, os sintam, os oiçam. Há tantos por aí esquecidos a olhar-te, a chamar-te ( a chamarem-nos) e tu ( e nós), distraídos com tanta luz, não os ouvimos. Eu, quase já os não oiço . Já quase não gritam...
Certamente perderam a voz,
ou a esperança,
ou quem sabe,
a vida.
Ouro e mirra?
Para que te servem cousas assim?
Não sei se tenho tempo de ir à tua festa, não tenho ouro nem mirra, nem sequer cousa alguma.
Oiço gritos de meninos, oiço angustias, oiço vozes (tuas?) que me trazem lágrimas,
gotas de um nada,
acidas,
doloridas...Sim, tens razão deviam ser coloridas...
Festa de vida ( divina?) deve ser colorida, com luzes e estrelas, foguetes e alegrias. Mas olha menino, não leves a mal eu levar o meu olhar a outros meninos, de olhar cada um deles sem os ver, porque sei que eles estão por aí ( cousas de fé), omnipresentes a sentir silêncios e dor. Não me apetece festas, nem alegrias, nem luzes, nem cor.
Parabéns, menino, que tenhas muitos anos, e te faças homem, porque é essa a razão de cada menino, fazer-se Homem!