post-it # 6
o que me incomoda, não é teres partido.
o que me incomoda é teres deixado a ausência.
foto de katia chausheva
cartas sem perguntas nem respostas.cartas de estar...do nosso estar...do nosso estar aqui ou ali...cartas do sentimentar...
-No dia em que esteja velho e já não seja eu, tem paciência e tenta entender-me.
-Quando, todos comem e eu não conseguir; quando não puder vestir-me: tem paciência. Recorda as horas que passei a ensinar-te.
-Se, quando falar contigo, repetir as mesmas coisas mil e uma vez, não me interrompas e escuta-me.
-Quando eras pequeno, na hora de dormir, eu tinha de te explicar mil vezes o mesmo conto repetidamente até teres sono.
-Não me envergonhes quando não quiser tomar banho, nem me ralhes. Recorda quando tinha de andar atrás de ti e as mil escusas que inventavas para não tomares banho.
-Quando vires a minha ignorância diante das novas tecnologias, e te pedir que me dês todo o tempo necessário, não me irrites com o teu sorriso amarelo.
-Eu ensinei-te a fazer tantas coisas... Comer bem, vestir-te... e como enfrentar a vida.
-Muitas coisas são produto do esforço e perseverança dos dois.
-Quando em algum momento perder a memória ou o fio à nossa conversa, dá-me o tempo necessário para me recordar. E se não puder fazê-lo não te enerves, seguramente o mais importante não era a minha conversa: a única coisa que queria era estar contigo e que me ouvisses.
-Se alguma vez não quiser comer, não me obrigues. Sabes bem quando necessito e quando não.
-Quando os meus membros cansados não me deixarem caminhar...dá-me a tua mão amiga da mesma maneira que eu ta dei, quando tu começavas a dar os teus primeiros passos.
-E quando algum dia te disser que já não quero viver, que quero morrer, não te enfades. Um dia entenderás que isso não tem nada a ver contigo, nem com o teu amor, nem com o meu.
-Tenta entender que na minha idade já não é viver mas sobreviver.
-Um dia descobrirás que, apesar dos meus erros, sempre desejei o melhor para ti e sempre tentei preparar o caminho que tu havias de fazer.
-Não te deves sentir triste, enfadado ou impotente por me veres desta maneira. Fica ao meu lado, tenta entender-me e ajuda-me como eu te fiz quando tu estavas a começar a viver.
-Agora, toca-te a ti acompanhar-me no meu frouxo caminhar. Ajuda-me a acabar o meu caminho, com amor e paciência. Eu te pagarei com um sorriso e com imenso amor que sempre tive por ti.
Amo-te, filho.
O teu pai, a tua mãe, os teus avós...
«In memoriam». Todos recordam os pais e os avós de toda a gente.
(Texto e imagem de Ceolino)
Que Hoje seja Natal
e Amanhã...
e Amanhã...
Quero que saibas, que não me importas. Tal como não me importa tudo quanto aconteceu, não me importa tudo quanto não aconteceu.
Sinto-me hoje lúcida.
Cheia, talvez... dessa estranha lucidez que coloca a descoberto os sentidos e percebemos então o quanto somos de vazio.
Importa apenas que não seja lenta a passagem dos dias continuos. Que não haja mais esse interrupto movimento de estar constantemente fixa, parada.
Importa apenas que, embora as estrelas brilhantes não caiam, este silêncio seja rápido. Animal faminto e voraz, que se ultrapasse numa velocidade de luz, se devore, e desprenda todos os fios de articulação da vida-marioneta.
Quero que saibas que resta pouco... um vazio apenas e toda a lucidez.
Que importa não perceber a vida se ela for rápida, uma viagem de comboio, a mil à hora sem solavanco na partida, nem travão de emergência?
Que importa não ser feliz, se esse mesmo comboio, onde vamos, nos abalroar no caminho sem tempo para a infelicidade?
by Ar,04 de Dezembro, 06