terça-feira, fevereiro 13, 2007

Sonho de uma Noite de Inverno...

Não há histórias de amor, sem dramas ocultos, dizia-me na sua voz doce minha Avó…

Imagem de Claude Théberge


Acordei sobressaltada, num cenário surreal, com o estrondo atrás de mim… personagens saídas de uma peça de Shakespeare, volteavam em meu redor…num panorama teatral, alheios à minha presença.
Enquanto “Flor-de-ervilha” coça a cabeça de “Bottom”, os “Elfos” percorrem o bosque perfumado… e ao longe, surgindo do nada, vejo uma sombra que me sorri, estendendo-me a mão. Mas…eu não a alcanço.
Oberon” e “Robim” discutem…e a figura começa a delinear-se… mas agora com um sorriso triste, por a não ter reconhecido…
À minha volta, os diálogos continuam como um sonho…"Oberon" e "Titânia" valseiam em palavras incompreensíveis… um vulto atravessa o denso nevoeiro e num gesto rápido empurra a figura que se começa a desvanecer ao meu olhar.
Oh dor profunda, uma lágrima incontida rasga a pele do meu rosto, enquanto a figura luta para se libertar e perceber o que lhe está a acontecer, enquanto a sua Voz eleva-se, para que eu a ouça…
Mas as personagens, como num sonho, abafam sua voz, tornando-a inaudível; mais que ao meu ouvido, uma voz chega-me ao coração, um dos novos personagens eleva o tom e virado para mim, faz esta alocução:

"Teseu" —
"Tanto mais generosos haveremos de ser, quando por nada os aplaudirmos. Prazer nos causarão seus próprios erros. Quando o pobre dever nada consegue, busca o nobre respeito unicamente a intenção, não o mérito. A minha vinda, sábios eminentes determinaram me saudar com longos discursos estudados. Tive o ensejo de os ver tartamudear e ficar pálidos, interromper uma sentença em meio, o nervoso afogar-lhes a palavra já tão exercitada, até que mudos se tornaram, sem dar-me as boas-vindas. Podeis crer-me, querida: do silêncio tirei a saudação, e li na própria modéstia da lealdade temerosa mais do que falar pode a língua fácil e a eloquência audaciosa e petulante. Fala mais o dever, com língua atada, muito mais, quando é mudo e não diz nada." (Citação)

Repentinamente tudo se evapora à minha volta: O séquito de "Oberon" e "Titânia", de "Teseu" e "Hipólita"… e o bosque transforma-se na minha praia favorita, onde uma chuva miudinha não impede o abraço que recebo... de quem? Da figura dos meus sonhos…enquanto como num filme animado ouço uma voz dizer…

Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas,
só as de verão.
No fundo isso não tem importância.
O que interessa mesmo
não são as noites em si,
são os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares,
em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.
(Shakespeare)

Mas… que sonho é este? Onde estou?
De repente, um frio percorre-me e completamente aninhada no meu cadeirão preferido, acordo deste sonho, ou terá sido mesmo um pesadelo?
Cai-me do livro um pequeno postal e, quando o apanho para o colocar de novo a marcar a página que não li, reparo naquilo que lá está escrito:

Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente
como nós, e que embora distante, está perto
em espírito, eis o que faz da Terra um
jardim habitado.
(Goethe)